domingo, 20 de março de 2011

ENTREVISTA - MARIANA FALCÃO

Mariana Falcão Duarte nasceu em Belo Horizonte.
É graduada em Arquitetura e Urbanismo pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais em 2007. Ainda n
o mesmo ano constituiu parceria e fundou o auCUBO.galeria (http://www.aucubo.com.br/)  juntamente com Daniel Corrêa.
Mariana tem especialização nas áreas de Cenografia e História da Arte e trabalha também nas áreas de arte e projetos de interiores.

É também professora do curso técnico de Design de Interiores no INAP - Instituto de Arte e Projeto, em Belo Horizonte.

- O que te levou a escolher o curso de arquitetura?
Tinha um desejo enorme de cursar faculdade de História da arte, mas como não havia esse curso em BH, me vi obrigada a optar por um curso que me desse habilitação para trabalhar na área. Tinha três opções: História, Belas Artes e Arquitetura. Desenhava muito nessa época, portanto, tive muita vontade de fazer belas artes, mas pesei a parte da prática profissional e do mercado de trabalho que, no cotidiano, fazem toda a diferença. Escolhi arquitetura e acabei me surpreendendo com o curso, com as múltiplas possibilidades de carreira, com a interdisciplinaridade, que me fascina ainda hoje. O curso de arquitetura te dá habilitação para trabalhar em muitas áreas diferentes, basta apenas que você busque uma especialização e qualificação depois de formada.

- Como foi o início da sua vida profissional? Logo que se formou já montou seu escritório próprio?
Quando me formei, no final de 2007, meu namorado e atual sócio já era arquiteto e precisava de ajuda com alguns projetos. Acabei indo trabalhar com ele, depois de ter saído de um outro escritório. Mas dentro da faculdade fiz mais de dez estágios, em quase todas as áreas possíveis: fiz em escritório de arquitetura de edificações, de casas, interiores, paisagismo, escritório de urbanismo, fui bolsista em dois projetos de iniciação científica na área de patrimônio cultural dentro da universidade... participei também de muitos grupos de pesquisa e, durante a faculdade, cursei matérias em outros cursos da UFMG, como filosofia, belas artes e de pós graduação também. Me preparei durante todo o tempo em que estive na faculdade (sete anos no total) para seguir carreira acadêmica, então tenho, inclusive, publicações de ensaios e artigos que escrevi na época. No final do meu curso acabei caindo meio que de para quedas no escritório do meu sócio e fui trabalhar com planejamento e projeto, duas opções de carreira, até então, distantes de mim. Foi aí que descobri uma nova paixão, mas também descobri que, assim como no curso de arquitetura, sinto necessidade de fazer intercâmbios entre objetos de trabalho, misturar áreas e temas. Sou híbrida nesse aspecto profissional. Adoro teoria da arquitetura, mas não seria feliz me dedicando a apenas ela, da mesma forma que o projeto e a prática não me satisfazem por completo. Necessito da interdisciplinaridade na minha vida profissional.

- Para você, o que é arquitetura?
É tudo. Meu pai é design e sempre me disse isso. O design está englobado pela arquitetura e tudo é design: de um palito de fósforo até o lugar onde você trabalha, estuda e mora. Da escolha da trama da colcha que cobre sua cama até o tipo de telha que vai revestir o telhado da sua casa, a arquitetura está presente em tudo. Gosto muito de um livro chamado "O Poder dos Limites" de György Doczi onde ele demonstra a ordem por trás de tudo o que consideramos ser mais orgânico. Ele nos mostra como tudo em nossa vida, tudo na natureza, possui uma lógica muito precisa por detrás. Acho isso fascinante.

- Quais arquitetos te inspiram?
Sempre fui péssima com nomes de arquitetos, mas pra citar alguns, gosto de Tadao Ando e Márcio Kongan (brasileiro) pela simplicidade das formas, pela elegância do bruto e do puro; Zaha Hadid pela capacidade de elaboração e visão de futuro... os projetos dela são brilhantes, parecem saídos de filmes. E tenho orgulho dela ser mulher. As mulheres tendem mais para a arquitetura de interiores, o que acho legal, mas é historicamente previsível de certa forma. Essa coisa de cuidar da casa sempre foi uma terefa direcionada para elas e é natural que elas se saiam muito bem nisso. Mas gosto da idéia de uma arquiteta iraquiana ter conseguido criar o que Zaha cria e ter expandido os limites não só fisícos, mas psicológicos e sociais das maneiras de morar, trabalhar e viver na cidade.

- Que obra de arquitetura te emociona?
Acho que para uma obra de arquitetura te emocionar você tem que ver pessoalmente, chegar perto, tocar. Não sou muito fã de Nyemeyer, mas conhecer o MAC em Niterói foi emocionante. Subi aquele morro a pé e aos poucos fui me aproximando daquela imensa escultura cravada na rocha. Gosto muito da Lina Bo bardi, acho o MASP, em São Paulo uma obra fantástica não apenas pela plasticidade, pela competência na engenharia e no cálculo - o que tornou possível executar um vão livre como aquele. Mas todo o museu é interesante, a maneira como ela interliga os espaços. O projeto dela no Sesc Pompéia é lindo também, principalmente pela poesia, pelo reaproveitamento do espaço (era uma antiga fábrica), pelo objetivo do projeto, pela arquitetura de interiores. O anexo construído, as piscinas, as aberturas... aquele lugar tem uma energia muito boa, dá vontade de visitar todos os dias e assistir as exposições, peças, biblioteca...Não é preciso erguer nada de muito extraordinário para que a emoção brote da arquitetura, acho que o conjunto - o objetivo, o projeto, a forma de execução, a consciência ambiental - tudo isso interfere na emoção que aquilo ali vai gerar.

- Como você se inspira para desenvolver seus projetos? Como é seu momento de criação?
Bom, depende muito do que vou criar. Se é um ambiente interno, se é uma edificação, se é um mobiliário ou objeto com um design específico. É necessário ter em mente o objetivo, os condicionantes do projeto, os desejos do cliente e meus próprios princípios também. Muito frequentemente essas duas coisas se chocam e é necessário muito jogo de cintura para articular todos esses aspectos. Trabalhando em sociedade ainda conto constantemente com as observações do meu sócio e vice versa. É um processo que começa com discussões, observações e definições. Passa pro papel, pro esboço...vai pro computador para ganhar medidas precisas no Cad e volumetria no Sketch up. Depois temos mais discussões e vamos lapidando o objeto até ele ganhar a forma final. Pra me inspirar, depende muito do que o cliente quer. Gosto de fazer pesquisa de obras análogas, busco referências de coisas que vi em viagens, em lugares diferentes. Tiro muitas fotos, tenho muitas revistas e gosto de observar...as idéias aparecem aí.

- Qual o projeto você julga ter tido grande peso no desenvolvimento da sua carreira? E qual foi o mais desafiador?
Acho que todos tiveram grande peso, quando estamos com um projeto em mãos sempre acreditamos que aquilo ali trará um diferencial na nossa vida profissional. Você nunca sabe de onde os clientes podem vir, por isso é importante trabalhar e cuidar dos grandes e dos pequenos projetos com a mesma consideração. Às vezes um projeto pequeno de hoje pode virar seu maior projeto de amanhã. O primeiro grande projeto que fiz com meu sócio, foi do Spa Mais Vida, com sede em Nova Lima. Foi bem desafiador pois era uma academia de ginástica de vão livre que se transformou em um spa de alto luxo de 1000m² com mais de 15 salas de massagem, fitness especializado de alto tecnologia, clínica médica, lanchonete, lounge com espelho dágua. Foi uma obra que durou 70 dias e o resultado ficou bem bacana.

- Em quais cidades da região seu escritório atua?
Em Belo Horizonte e Nova Lima, principalmente.

- O que você julga importante para a boa formação do profissional de arquitetura?
Acho importante ter calma, fazer bem feito e devagar, se necessário. Acho fundamental fazer estágio, buscar prática ainda na faculdade para que, quando chegar a hora de se lançar ao mercado, você tenha mais preparo profissional e psicológico, que é fundamental. Acho importante o aluno ir além do que a faculdade oferece, buscar cursos de qualificação em outras áreas, participar de eventos, palestras, encontros, que são formadores de opinião. Não devemos nos acomodar e achar que a faculdade tem a obrigação de nos ensinar tudo o que precisamos aprender, pois o papel dela é principalmente nos apresentar a diferentes universos. Quem vai desvendá-lo ou não é cada aluno.

- Como você vê o mercado de trabalho hoje e como imagina o futuro para os alunos hoje no 1º período do curso?
Sendo bem realista o mercado está saturado em várias áreas enquanto em outras necessita de profissionais especializados. Acho importante buscarmos um diferencial para que o mercado nos absorva. Trabalhar com tecnologias diferentes, formatos diferentes, buscar licitações, concursos, acho que os alunos de hoje tem que estar antenados com a evolução natural das coisas. Não dá pra ficar esperando o cliente bater na porta, pois assim, você recebe dez mil em um mês depois passa outros cinco meses sem trabalho nenhum. Tem que correr atrás das oportunidades.

- Qual mensagem você deixa para aqueles que querem seguir a carreira?
Que eles sejam ativos, curiosos e não se acomodem. Não se deixem levar por modismos, tendências. O grande diferencial de um profissional da arquitetura é que ele trabalha com a criatividade e acho que isso deve ser exercitado continuamente ao longo de sua vida.

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